29/03/2007 - Gazeta Mercantil
Risco de fraude após Sarbanes é o mesmo, diz pesquisa da KPMG
Por: Aluísio Alves
São Paulo, 29 de Março de 2007 - O risco de fraudes corporativas sérias nos EUA não diminuiu com o advento da Sarbanes-Oxley (Sox), lei societária criada em 2002 após escândalos corporativos que levaram à quebra de gigantes como Enron e WorldCom. Pelo menos é o que indicam os resultados de uma pesquisa da KPMG com funcionários de grandes corporações norte-americanas. Embora não diga respeito somente a irregularidades financeiras, o levantamento permite uma avaliação preliminar sobre a eficácia do aumento dos controles internos das companhias.
O objetivo do estudo foi tentar descobrir se os profissionais perceberam redução das condutas impróprias dos principais executivos das empresas nas quais trabalham, após a Sox. Foram consultadas mais de 4 mil pessoas, todas de companhias com mais de 300 funcionários. Uma das principais revelações é que três em cada quatro entrevistados foram testemunhas de alguma conduta imprópria de seus superiores nos últimos 12 meses. Metade deles disseram que as irregularidades graves que, se descobertas, poderiam causar uma perda significativa da confiança do público, caso fosse descoberta. Esses resultados praticamente não diferem de uma pesquisa similar, feita no ano 2000. "Os resultados impressionam porque nos últimos anos aumentou bastante o debate sobre conduta ética", diz Werner Scharrer, sócio da área de prevenção e investigação de fraudes da KPMG.
Outro dado inquietante: praticamente um terço dos funcionários indicou falta de confiança de que seriam tomadas as medidas adequadas ou de que suas preocupações seriam tratadas confidencialmente, caso resolvessem relatar a irregularidade. Os entrevistados contaram ainda não terem percebido mudanças significativas nos fatores tidos como os maiores motivadores de condutas impróprias, entre elas a pressão para atingir metas independente dos meios utilizados.
Para Scharrer, no entanto, dizer que a Sox fracassou apenas com base nos resultados da pesquisa pode ser precipitado. Segundo ele, embora o nível de conduta imprópria tenha se mantido, os entrevistados informaram que as condições que facilitam prevenir, detectar e reagir a fraudes e condutas impróprias melhoraram. "A sensibilidade das pessoas sobre o que é uma conduta imprópria aumentou", disse. Além disso, o executivo aponta que a disposição dos empregados para relatar irregularidades também cresceu, embora os cargos com poder de tomar providências em resposta a alegações de conduta imprópria (áreas jurídica, de auditoria interna e do Conselho de Administração ou Comitê de Auditoria) foram citados entre os canais menos prováveis que os funcionários se sentiriam à vontade para utilizar ao relatar suas alegações.